antes de tudo olhem isso : meu que tenso...
a reação do homem que estava comigo ao ver o anúncio foi soltar uma sonora gargalhada - reação idêntica á minha, com a diferença de um balançar de cabeça, índicio de minha frouxa indignação.
espantosa essa capacidade brasileira de transformar em piada o que se trata tão seriamente em outros países - fosse nos EUA ou alemanha , loja seria motivo de boicote feminista, com direitos a urros e passeatas na porta.
mas no Brasil - dado o bom humor, a permeabilidade e a tolerância característica do carácter social ou da personalidade típica do brasileiro, será ? - a esculhambação vira regra. Afinal, é melhor abrir o jornal com uma gargalhada logo de manhã ou vestir a camisa em defesa da "causa" e sair para uma passeata?
Brasileiro tem preguiça de protestar ( ou não tem costume), dai o ambiente favorável para que a propaganda use e abuse de sua função deformativa em relação á consciência das pessoas. esse anúncio não só é um insulto ás mulheres como um perigoso incentivo ao assédio sexual e suas mais drásticas consequências.
o que ele diz é : vista-e bem, com terno,camisa e gravata da loja,e fique á vontade para assediar, "cantar", seduzir e até estuprar - se você estiver bonito, não será nem rejeitado nem tido como criminoso.
funçãodeformativa é isso- é o perverso exercício de divulgação de valores equivocados como se fossem positivos; é a direção manipuladora e tendenciosa da consciência das pessoas. o simples fato de se tratar de um anúncio de roupas já serve para reforçar sentimento de inferioridade, marginalidade e feiúra.
em diversas sociedades as roupas são os símbolos externos da potênia espiritual, a forma visível do ser interior. são também reveladoras da parte da personalidade aberta a influêcias e modas, bem como de seu desejo de exercer influência. o anúncio pode ser lido, em ultima instância, como : " o hábito faz, sim, o sucesso e a impunidade do estrupador".
não bastasse tudo isso, a propaganda em questão fortalece a imagem estereotipada da mulher como "passivo objeto do desejo patriarcal", como diria a feminista americana Sussan Bordo. e essa "objetificação da mulher",- diria ainda mais radical Andrea Dworkin - pode muito bem ser o o mais destrutivo aspecto da hierarquia de gêneros, em detrimento do feminismo.
mas ai - perguntam os cínicos -, a propaganda deve funcionar como uma "instituição moral" ou ela é um espelho da sociedade? basta olhar a anúncio de TV da parmalat, com crianças vestidas de bichinhos, há uma criança negra entre várias brancas. ela apareçe como que por obrigação, por meio segundo, de form descarada mente discriminatória, isso não é um crime? ou isso é um espelho do Brasil?.
Livro - pragmática de texto pra estudantes universitários- Carlos Alberto Faraco, Cristovão Tezza.
Umberto eco - Oficina de texto – seis passeios pelos bosques da ficçoes.
Bakhtin
Polifonia x plurilinguismo.
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